quinta-feira, 16 de julho de 2015

A VIDA HUMANA NÃO TEM SENTIDO

ilustração de Gerald Thomas


            Então, nossos ancestrais medievais eram felizes porque encontravam sentido na vida em ilusões coletivas sobre a vida após a morte? Sim. Contanto que ninguém destruísse suas fantasias, por que não?
Até onde sabemos, de um ponto de vista puramente científico, a vida humana não tem sentido algum. Os humanos são resultado de processos evolutivos cegos que atuam sem propósito ou objetivo. Nossas ações não são parte de um plano cósmico divino, e, se o planeta Terra explodisse amanhã, o universo provavelmente seguiria em frente como de costume. Até onde podemos afirmar no presente momento, a subjetividade humana não faria falta. Portanto, qualquer significado que as pessoas atribuem à própria vida é apenas uma ilusão. Os sentidos sobrenaturais que os medievais encontravam em sua vida eram não mais ilusórios do que os sentidos humanistas, nacionalistas e capitalistas que as pessoas de hoje encontram. O cientista que afirma que sua vida tem sentido porque ele contribui para um aumento do conhecimento humano, o soldado que declara que sua vida tem sentido porque ele luta para defender sua terra natal e o empreendedor que encontra sentido em construir uma nova empresa são não menos iludidos do que seus semelhantes medievais que encontram sentido lendo as Escrituras, participando de uma Cruzada ou construindo uma nova catedral.
Então, talvez a felicidade seja sincronizar nossas ilusões pessoais de sentido com as ilusões coletivas predominantes. Contando que minha narrativa pessoal esteja alinhada com as narrativas das pessoas à minha volta, posso me convencer de que minha vida tem sentido e encontrar felicidade nessa convicção.
(In: HARARI, Yuval Noah. SAPIENS: uma breve história da humanidade. Porto Alegre: LPM, 2015.)

YUVAL NOAH HARARI, é doutor em história pela Universidade de Oxford e professor da Universidade Hebraíca de Jerusalém.