sexta-feira, 26 de julho de 2013

Depressão, mal do século XXI

Depressão, o mal do século, artigo de Montserrat Martins


Na área emocional, o mal do século XXI é a depressão, como a histeria foi o mal do século XIX. Sabe-se que a histeria era comum na era vitoriana, de repressão sexual, mas depois das mudanças culturais do século XX se tornou rara na Europa. Mas quais as causas da depressão, agora, como um fenômeno social? Qualquer transtorno tem causas biológicas, psicológicas e sociais. Entre os múltiplos fatores, no caso da depressão como o ‘mal do século’, destacam-se os sociológicos.
Como todos os transtornos, são mais frequentes na população de baixa renda, mas no caso da depressão não é só o estresse das dificuldades financeiras, são também as humilhações que as pessoas sofrem na vida cotidiana, no trabalho e no próprio convívio social. Faltam pesquisas sobre algumas questões específicas, mas é previsível por exemplo o efeito das propagandas de automóveis de último tipo e produtos de luxo na televisão sobre pessoas que jamais poderão adquirir esses bens. Muitos adolescentes internados na FASE praticaram algum roubo de carro não para revender, mas para dirigir e passar com ele na frente de garotas, como demonstração de status, de poder, para se sentirem ‘importantes’, validados por elas.
Outros fatores sociológicos vão além da condição econômica, atingem a todos os grupos. Estamos no século da sociedade de massas, das multidões, da anomia, da falta de identidade, diante da necessidade de adaptação às tendências mutantes dos grupos sociais. A própria difusão de drogas como o crack e a cocaína, de efeito euforizante, é um dos sintomas dessa era. O culto ao ‘celebritismo’ também, bater fotos com celebridades é uma forma de ser “alguém” – não importando que tipo de fama a pessoa tenha, porque o ‘celebritismo’ não requer valor intrínseco. Sendo que o mais almejado modo de atingir os “15 minutos de fama” é aparecer na TV, vem daí o sonho de milhões em ir para os BBBs da vida.
Nesse mundo massificado em que as pessoas medem o próprio valor por consumo e status, em detrimento das próprias qualidades humanas, aqueles cujo trabalho é atender aos outros passam a ser cada vez mais atingidos por estresse. É o caso da chamada “síndrome de burnout”, um tipo de depressão desenvolvida em decorrência da atividade profissional. São descritos em artigos sobre ‘burnout’ os modos como o estresse dos professores e dos enfermeiros se transforma em depressão, convivendo com frustrações e sofrimentos das populações que atendem.
Em escolas e hospitais é cada vez mais difícil trabalhar e o mesmo vale para o trabalho na rua, na área da segurança. Todos queremos “ter segurança”, não sermos roubados na rua, ao mesmo tempo em que reclamamos do despreparo dos policiais nos casos de abuso de poder. Também queremos que os adolescentes infratores quando saiam da FASE não ‘recaiam’ no mundo do crime e a expectativa para isso fica nos ombros da instituição. Nossos problemas sociais são grandes, graves e complexos, mas algumas categorias profissionais vem carregando nos ombros o peso das expectativas de resolver problemas de muito difícil solução – que não dependem só deles, mas em que eles são vistos como responsáveis.
Num mundo em que multidões se sentem amassadas pelo peso dos problemas, a alegria que alguns proporcionam com sua arte (jogadores de futebol, atores) fazem deles ídolos. Mas o século XXI também é o da diversidade e do respeito às diferenças – em que cada um e cada grupo tem próprios ídolos. Meus heróis são os que atendem às pessoas nas ruas, na FASE, no SUS e nas escolas, lutando contra o ‘mal do século’.
Montserrat MartinsColunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

domingo, 7 de julho de 2013

PUNCTUM por Roland Barthes


Roland Barthes, no seu livro a Câmara Clara, diz-nos que as fotos que são verdadeiramente fotos para si, possuem dois elementos estruturais. 1) algo nelas desperta um interesse geral, «um afecto médio». A este elemento Barthes chama studium, palavra latina cujo significado imediato é estudo, gosto por alguém, «uma espécie de investimento geral». 2) este studium é quebrado por algo que salta da fotografia como uma flecha e o trespassa. É o punctum da foto, palavra que remete para picada mas também para pontuação e marca. «O punctum de uma fotografia é esse acaso que nela me fere (mas também me mortifica, me apunhala)». O acaso tem uma importância decisiva na visão de Barthes da fotografia, desvalorizando, por isso, as fotos encenadas.

Segundo esta maneira de ver a fotografia, uma foto pode ser totalmente inerte, despertar um interesse geral sem punctum, ou atingir profundamente o espectador. Investidas destudium mas sem punctum as fotos agradam ou desagradam sem tocar de forma especial. Estamos no âmbito do gosto/não gosto, «duma espécie de interesse vago».

A uma foto cujo studium não é trespassado pelo punctum chama Barthes fotografia unária. «A fotografia é unária quando transforma enfaticamente a «realidade» sem a desdobrar, sem a fazer vacilar (…). A Fotografia unária tem tudo para ser banal, sendo a «unidade» da composição a primeira regra da retórica vulgar (…)»

Barthes distingue punctum de «choque». Uma foto pode ser chocante e não perturbar. Pode gritar e não ferir.

Barthes dá dois exemplos destas fotos unárias, que despertam um certo interesse sem no entanto o atingirem profundamente: as fotos de reportagem em geral e as fotos pornográficas. «As fotos de reportagem são recebidas, é tudo. Folheio-as mas não as rememoro; nelas, nunca um pormenor (em tal canto) vem interromper a minha leitura». A foto pornográfica é «como uma vitrina que, iluminada, só mostrasse uma única jóia, ela é inteiramente constituída pela apresentação de uma única coisa, o sexo: nunca há um segundo objectivo, intempestivo, que venha semiesconder, adiar ou distrair».

punctum pode ser um pormenor. «Nesse espaço habitualmente unário, por vezes (mas infelizmente, raras vezes) um «pormenor» chama a atenção. Sinto que a sua presença por si só modifica a minha leitura, que é uma nova foto que contemplo, marcada, aos meus olhos, por um valor superior. Este «pormenor» é o punctum (aquilo que me fere)». Mas opunctum não tem necessariamente de ser um pormenor pode ser uma situação de coopresença de dois elementos descontínuos ou algo difícil de detectar (está lá mas difícil de precisar).

punctum pormenor é uma espécie de «imobilidade viva: ligada a um pormenor (a um detonador), uma explosão produz uma estrelinha na trama (…) da foto». Barthes dá como exemplo deste punctum pormenor uma foto de Lewis H. Hime: Débeis numa instituição.


Lewis H. Hime

Nesta foto «não vejo de todo as cabeças monstruosas e os horríveis perfis (isso faz parte do studium); o que vejo é o pormenor descentrado, a enorme gola Danton do rapaz, a ligadura no dedo da rapariga».

punctum pormenor pode estar em estado latente, não se tornar imediatamente evidente e manifestar-se muito depois, mesmo quando não temos já a foto à nossa frente. Como exemplo dá a foto Retrato de Família de James Van der Zee.

James van der Zee
Numa primeira aproximação o punctum pareceu a Barthes estar na cintura da rapariga e nos seus braços cruzados atrás das costas «mas, diz ele, a foto trabalhou dentro de mim, e, mais tarde, compreendi que o verdadeiro punctum era o colar que ela trazia rente ao pescoço: porque (…) era esse mesmo colar (fino cordão de ouro torcido) que eu sempre vira usado por uma pessoa da minha família e que, uma vez desaparecida essa pessoa, ficou fechado numa caixa familiar de velhas jóias». É este pormenor que se ligou à morte que se tornou punctum. Não é por acaso que a morte pode ter importância no punctum, na segunda parte do livro Barthes vai analisar a questão da essência da fotografia no plano do tempo e da morte.

Barthes dá como exemplo de punctum enquanto coopresença de dois elementos descontínuos a foto de Wessing: Nicarágua, o exército patrulhando as ruas. Os dois elementos descontínuos são as freiras e os soldados.


Wessing
Como punctum indetectável Barthes refere a foto de Mapplethorpe Phil Glass e Bob Wilson. «Bob Wilson capta a minha atenção, sem que eu saiba explicar porquê, ou seja, sem que eu saiba em quê: será o olhar, a pele, a posição das mãos, os sapatos de ténis?»



Mapplethorpe

punctum não se deve confundir com o extravagante. Na foto de Nadar Savorgnan de Brazza, o elemento extravagante para Barthes é a mão do marinheiro na coxa de Brazza, mas o punctum da foto é a atitude de braços cruzados do outro marinheiro.

Nadar

punctum não é algo reflexivo que ressalte duma análise consciente. Trata-se antes de algo pré-reflexivo, pré-consciente. O punctum, diz-nos ainda Barthes, «é uma mutação viva do meu interesse, uma fulguração. Através de qualquer coisa que a marca, a foto deixa de ser uma qualquer. Essa qualquer coisa fez tilt, provocou em mim um pequeno estremecimento, um satori, a passagem de um vazio.». Isto acontece «quando a retiro do seu «bla-bla» vulgar: «Técnica», «Realidade», «Reportagem», «Arte», etc.: nada a dizer, fechar os olhos, deixar que o pormenor suba sozinho à consciência afectiva».

Livro (a ler por todos os que se interessam por fotografia):

Roland Barthes - A Câmara Clara, ed. 70, lisboa, 1981

publicado no site: http://filosofia-fotografia.blogspot.com.br/

Mulher não faz literatura



De pais iranianos, nascida em Paris, formada na École Normale Supérieure aos vinte anos, professora de Harvard aos vinte e quatro. Fala cinco línguas, uma delas, a brasileira. Mas nada foi suficiente. Lila Azam Zanganeh tornou-se a musa da FLIP pela beleza franco-iraniana.
Fossem Lydia Davis e Maria Bethania mais novas talvez houvesse concorrência. Quem sabe enquete na televisão para escolher a mulher que mais se adequasse a um padrão de beleza que lhe conferiria esse importante título.
Enquanto ao meu lado, um grupo de garotas comenta sobre Francisco Bosco, parceiro de Lila no debate: bonitinho, dizem. Mas nenhuma nota de imprensa até agora conferiu ao ensaísta o título de mais belo homem do evento.
E na literatura, exposta quase a margem da página vive a mulher. Em séculos passados, escritoras utilizavam-se de pseudônimos masculinos para publicarem seus livros. Inconcebível uma mulher capaz de produzir narrativas. Dizem até mesmo que Nabokov não simpatizava com suas tradutoras.
Recordo-me de Cecília Meireles em seu poema Motivo, afirmando: sou poeta. Contra a regra normativa de gênero que transforma poeta, no feminino, em poetiza. Esse sufixo que parece menor, rebaixado, precário diante do poeta, grande realizador.
Perdoem-me o linguajar, mas Cecília tinha culhões. Em um pequeno verso, composto por duas palavras, equipara-se a todos os poetas, rindo deste disparate arbitrário que parece inferiorizar as poetas, indignas de estarem no mesmo panteão que eles.
Mas a poesia de Cecília, nem a carreira bem sucedida de Lila e sua precisão ao escrever sobre Vladimir Nabokov tem importância. Vale o sorriso amplo que revela dentes bem cuidados. Olhos observadores e o rosto simétrico destacado pela maquiagem bem realizada. Fatores suficientes para produzir belas fotografias.
E torna-se fatal: musa. Sem tirar, nem por: musa. Deixa-se de lado a carreira, os estudos acadêmicos, a leitura atenta à obra de Nabokov, à composição dos ensaios críticos. Porque  Lila Azam Zanganeh é uma mulher bonita.
Nas páginas de seu livro O Encantador: Nabokov e a Felicidade vejo a escritora escorrer pelos cantos. Banida do reconhecimento. Exilada do panteão contemporâneo da crítica literária. Esperando desesperadamente perder a beleza para que se concentrem  no cerne da questão: Seu exímio trabalho premiado ao biografar Vladimir Nabokov. Enquanto isso, ela acena, sorri com os aplausos, sendo o bibelô de nossa imprensa.
E a beleza de Francisco Bosco? Não importa. Ele é um escritor e temos de nos concentrar naquilo que ele produz.
Enquanto isso, musa.


Leia Mais: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/flip-2013-mulher-nao-faz-literatura/#ixzz2YN9wNYfy

sábado, 20 de abril de 2013


O FIM DO PUDOR NO CINEMA:


"Em 1959, põe-se de lado toda hipocrisia. E Deus criou a mulher, de Roger Vadim, marca uma virada, não porque ele pinta os amores de uma moça livre – Bergman já o experimentara em 1953, em Monika, sem que o filme provocasse polêmicas -, mas porque a protagonista, Brigitte Bardot, aparece nua, embora moldada em um collant vermelho. 

Quanto ao banho depois do adultério, filmado por Louis Malle em Os Amantes, em 1958, suscita a polêmica por sugerir o amor físico.


A partir da década de 1960 afirma-se o direito à sexualidade na tela com A colecionadora (1967), de Éric Rohmer, que pinta os amores conjugados de uma moça comum, ou a infidelidade sem drama de Antoine Doinel em Domicílio conjugal (1970).

Vem depois a época do corpo-a-corpo, que faz recuar progressivamente os limites do impudor, da felação de Maruschka Detmers em Com o diabo no corpo, de Bellochio (1986) às ligações homossexuais de passagem, pintadas sem disfarce por Stephen Frears em Prick up your ears em 1987.

Diminuiu assim a diferença entre filmes eróticos e filmes classificados como pornográficos. O aumento da pornografia remete, no entanto, a um fenômeno mais amplo, o da comercialização do corpo sexuado.”

In: COURTINE, Jean-Jacques. História do Corpo: as mutações do olhar: o século XX. Petrópolis: Vozes, 2008. PP.113-114.

Domicilio conjugal - Antoine Dinel

Com o diabo no corpo - Bellochio

E deus fez a mulher - Roger Vadim

Os amantes - Louis Malle

Érich Rohmer

Stephen Frears - Prick up



terça-feira, 16 de abril de 2013


CURIOSIDADES BRASILEIRAS:
(pelo francês Olivier Teboul)


Aqui são umas das minhas observações, às vezes um pouco exageradas, sobre o Brasil. Nada sério.

1.               Aqui no Brasil, tudo se organiza em fila: fila para pagar, fila para pedir, fila para entrar, fila para sair e fila para esperar a próxima fila. E duas pessoas ja bastam para constituir uma fila.
2.               Aqui no Brasil, o ano começa “depois do Carnaval”.
3.               Aqui no Brasil, não se pode tocar a comida com as mãos. No MacDonalds, hamburger se come dentro de um guardanapo. Toda mesa de bar, restaurante ou lanchonete tem um distribuidor de guardanapos e de palitos. Mas esses guardanapos são quase de plástico, nada de suave ou agradável. O objetivo não é de limpar suas mãos ou sua boca mas é de pegar a comida com as mãos sem deixar papel nem na comida nem nas mãos.
4.               Aqui no Brasil todo é gay (ou ‘viado’). Beber chá: e gay. Pedir um coca zero: é gay. Jogar vólei: é gay. Beber vinho: é gay. Não gostar de futebol: é gay. Ser francês: é gay, ser gaúcho: gay, ser mineiro: gay. Prestar atenção em como se vestir: é gay. Não falar que algo e gay : também é gay.
5.               Aqui no Brasil, os homens não sabem fazer nada das tarefas do dia a dia: não sabem faxinar, nem usar uma maquina de lavar. Não sabem cozinhar, nem a nível de sobrevivência: fazer arroz ou massa. Não podem consertar um botão de camisa. Também não sabem coisas que estão consideradas fora como extremamente masculinas como trocar uma roda de carro. Fui realmente criado em outro mundo...
6.               Aqui no Brasil, sinais exteriores de riqueza são muito comuns: carros importados, restaurantes caríssimos em bairros chiques, clubes seletivos cujos cotas atingem valores estratosféricas.
7.               Aqui no Brasil, os casais sentam um do lado do outro nos bares e restaurantes como se eles estivessem dentro de um carro.
8.               Aqui no Brasil, os homens se vestem mal em geral ou seja não ligam. Sapatos para correr se usam no dia a dia, sair de short, chinelos e camisetas qualquer e comum. Comum também é sair de roupas de esportes mas sem a intenção de praticar esporte. Se vestir bem também é meio gay.
9.               Aqui no Brasil, o cliente não pede cerveja pro garção, o garção traz a cerveja de qualquer jeito.
10.           Aqui no Brasil, todo mundo torce para um time, de perto ou de longe.
11.           Aqui no Brasil, sempre tem um padre falando na televisão ou na radio.
12.           Aqui no Brasil, a vida vai devagar. E normal estar preso no transito o dia todo. Mas não durma no semáforo não. Ai tem que ser rápido e sair ate antes do semáforo passar no verde. Não depende se tiver muitas pessoas atrás, nem se estiverem atrasados. Também é normal ficar 10 minutos na fila do supermercado embora que tenha só uma pessoa na sua frente. Ai demora para passar os artigos, e muitas vezes a pessoa da caixa tem que digitar os códigos de barra na mão ou pedir ajuda para outro funcionário para achar o preço de um artigo. Mas, na hora de retirar o cartão de credito, ai tem que ser rápido. Não é brincadeira, se não retirar o cartão na hora, a mesma moça da caixa que tomou 10 minutos para 10 artigos vai falar agressivamente para você agilizar: “pode retirar o cartão!”. 
13.           Aqui no Brasil, os chineses são japoneses.
14.           Aqui no Brasil, a música faz parte da vida. Qualquer lugar tem musica ao vivo. Muitos brasileiros sabem tocar violão embora que não consideram que toquem se perguntar pra eles. Tem músicos talentosos, mas não tantos tocam as musicas deles. Bares estão cheios de bandas de cover.
15.           Aqui no Brasil, a política não funciona só na dimensão esquerda - direita. Brasil é um pais de esquerda em vários aspectos e de direita em outros. Por exemplo, se pode perder seu emprego de um dia pra outro quase sem aviso. Tem uma diferencia enorme entre os pobres e os ricos. Ganhar vinte vezes o salario minimo é bastante comum, e ganhar o salario minimo ainda mais. As crianças de classe media ou alta estudam quase todos em escolas particulares, as igrejas tem um impacto muito importante sobre decisões politicas. E de outro lado, existe um sistema de saúde publico, o estado tem muitas empresas, tem muitos funcionários públicos, tem bastante ajuda para erradicar a pobreza em regiões menos desenvolvidas do país. O mesmo governo é uma mistura de política conservadora, liberal e socialista.
16.           Aqui no Brasil, e comum de conhecer alguem, bater um papo, falar “a gente se vê, vamos combinar, ta?”, e nem trocar telefone.
17.           Aqui no Brasil, a palavra “aparecer” em geral significa, “não aparecer”. Exemplo: “Vou aparecer mais tarde” significa na pratica “não vou não”.
18.           Aqui no Brasil, o clima é muito bom. Tem bastante sol, não esta frio, todas as condicões estão reunidas para poder curtir atividades fora. Porem, os domingos, se quiser encontrar uma alma viva no meio da tarde, tem que ir pro shopping. As ruas estão as moscas, mas os shopping estão lotados. Shopping é a coisa mais sem graça do Brasil. 
19.           Aqui no Brasil, novela é mais importante do que cinema. Mas o cinema nacional é bom.
20.           Aqui no Brasil, não falta espaço. Falam que o pais tem dimensões continentais. E é verdade, daria para caber a humanidade inteira no Brasil. Mas então se tiver tanto espaço, por que é que as garagens dos prédios são tão estreitos? Porque existe até o conceito de vaga presa?
21.           Aqui no Brasil, comida salgada é muito salgada e comida dolce é muito doce. Ate comida é muita comida.
22.           Aqui no Brasil, se produz o melhor café do mundo e em grandes quantidades. Uma pena que em geral se prepare muito mal e cheio de açúcar.
23.           Aqui no Brasil, praias bonitas não faltam. Porem, a maioria dos brasileiros viajam todos para as mesmas praias, Búzios, Porto de Galinhas, Jericoacoara, etc.
24.           Aqui no Brasil, futebol é quase religião e cada time uma capela.
25.           Aqui no Brasil, as pessoas acham que dirigir mal, ter transito, obras com atraso, corrupção, burocracia, falta de educação, são conceitos especificamente brasileiros. Mas nunca fui num pais onde as pessoas dirigem bem, onde nunca tem transito, onde as obras terminam na data prevista, onde corrupção é só uma teoria, onde não tem papelada para tudo e onde tudo mundo é bem educado!
26.           Aqui no Brasil, esporte é ou academia ou futebol. Uma pena que só o futebol seja olímpico.
27.           Aqui no Brasil, existe três padrões de tomadas. Vai entender porque...
28.           Aqui no Brasil, não se assuste se estiver convidado para uma festa de aniversário de dois anos de uma criança. Vai ter mais adultos do que crianças, e mais cerveja do que suco de laranja. Também não se assuste se parece mais com a coroação de um imperador romano do que como o aniversário de dois anos. E ‘normal’.
29.           Aqui no Brasil, nõ tem o conceito de refeição com entrada, prato principal, queijo, e sobremesa separados. Em geral se faz um prato com tudo: verdura, carne, queijo, arroz e feijão. Dai sempre acaba comer uma mistura de todo.
30.           Aqui no Brasil, o Deus esta muito presente... pelo menos na linguagem: ‘vai com o Deus’, ‘se Deus quiser’, ‘Deus me livre’, ‘ai meu Deus’, ‘graças a Deus’, ‘pelo amor de Deus’. Ainda bem que ele é Brasileiro.
31.           Aqui no Brasil, cada vez que ouço a palavra ‘Blitz’, tenho a impressão que a Alemanha vai invadir de novo. Reminiscência da consciência coletiva francesa...
32.           Aqui no Brasil, pais com muita ascendência italiana, tem uma lei que se chama ‘lei do silencio’. Que mau gosto! Parece que esqueceram que la na Itália, a lei do silencio (também chamada de “omerta”) se refere a uma pratica da mafia que se vinga das pessoas que denunciam suas atividades criminais.
33.           Aqui no Brasil, se acha tudo tipo de nomes, e muitos nomes americanos abrasileirados: Gilson, Rickson, Denilson, Maicon, etc.
34.           Aqui no Brasil, quando comprar tem que negociar.
35.           Aqui no Brasil, os homens se abraçam muito. Mas não é só um abraço: se abraça, se toca os ombros, a barriga ou as costas. Mas nunca se beija. Isso também é gay.
36.           Aqui no Brasil, o polegar erguido é sinal pra tudo : “Ta bom?”, “obrigado”, “desculpa”.
37.           Aqui no Brasil, quando um filme passa na televisão, não passa uma vez só. Se perder pode ficar tranquilo que vai passar mais umas dez outras vezes nos próximos dias. Assim já vi "Hitch" umas quatro vezes sem querer assistir nenhuma.
38.           Aqui no Brasil, tem um jeito estranho de falar coisas muito comuns. Por exemplo, quando encontrar uma pessoa, pode falar “bom dia”, mas também se fala “e ai?”. E ai o que? Parece uma frase abortada. Uma resposta correta e comum a “obrigado” e “imagina”. Imagina o que? Talvez eu quem falte de imaginação.
39.           Aqui no Brasil, todo mundo gosta de pipoca e de cachorro quente. Não entendo.
40.           Aqui no Brasil, quando você tem algo pra falar, é bom avisar que vai falar antes de falar. Assim, se ouvi muito: “vou te falar uma coisa”, “deixa te falar uma coisa”, “é o seguinte”, e até o meu preferido: “olha só pra você ver”. Obrigado por me avisar, já tinha esquecido para que tinha olhos.
41.           Aqui no Brasil, as lojas, o negócios e os lugares sempre acham um jeito de se vender como o melhor. Já comi em em vários ‘melhor bufe da cidade’ na mesma cidade. Outro superativo de cara de pau é ‘o maior da América latina’. Não costa nada e ninguém vai ir conferir.
42.           Aqui no Brasil, tem uma relação ambígua e assimétrica com a América latina. A cultura do resto da América latina não entra no Brasil, mas a cultura brasileira se exporta la. Poucos são os brasileiros que conhecem artistas argentinos ou colombianos, poucos são os brasileiros que vão de ferias na América latina (a não ser Buenos Aires ou o Machu Pichu), mas eles em geral visitaram mais países europeus do que eu. O Brasil as vezes parece uma ilha gigante na América latina, embora que tenha uma fronteira com quase todos os outros países do continente.
43.           Aqui no Brasil, relacionamentos são codificados e cada etapa tem um rótulo: peguete, ficante, namorada, noiva, esposa, (ex-mulher...). Amor com rótulos.
44.           Aqui no Brasil, a comida é: arroz, feijão e mais alguma coisa.
45.           Aqui no Brasil, o povo é muito receptivo. E natural acolher alguem novo no seu grupo de amigos. Isso faz a maior diferencia do mundo. Obrigado brasileiros.
46.           Aqui no Brasil, o brasileiros acreditam pouco no Brasil. As coisas não podem funcionar totalmente ou dar certo, porque aqui, é assim, é Brasil. Tem um sentimento geral de inferioridade que é gritante. Principalmente a respeito dos Estados Unidos. To esperando o dia quando o Brasil vai abrir seus olhos.
47.           Aqui no Brasil, de vez em quando no vocabulário aparece uma palavra francesa. Por exemplo ‘petit gâteau’. Mas para ser entendido, tem que falar essas palavras com o sotaque local. Faz sentido mas não deixa de ser esquisito.
48.           Aqui no Brasil, tem um organismo chamado o DETRAN. Nem quero falar disso não, não saberia por onde começar...
49.           Aqui no Brasil, dentro dos carros, sempre tem uma sacola de tecido no alavanca de mudança pra colocar o lixo.
50.           Aqui no Brasil, os brasileiros se escovam os dentes no escritório depois do almoço.
51.           Aqui no Brasil, se limpa o chão com esse tipo de álcool que parece uma geleia.
52.           Aqui no Brasil, a versão digital de 'fazer fila' e 'digitar codigos'. No banco, pra tirar dinheiro tem dois códigos. No supermercado, o leitor de código de barra estando funcionando mal tem que digitar os códigos dos produtos. Mas os melhores são os boletos pra pagar na internet: uns 50 dígitos. Sempre tem que errar um pelo menos. Demora.
53.           Aqui no Brasil, o sistema sempre ta “fora do ar”. Qualquer sistema, principalmente os terminais de pagamento de cartão de credito.
54.           Aqui no Brasil, tem um lugar chamado cartório. Grande invenção para ser roubado direito e perder seu tempo durante horas para tarefas como certificar uma copia (que o funcionário nem vai olhar), o conferir que sua firma é sua firma.
55.           Aqui no Brasil, parece que a profissão onde as pessoas são mais felizes é coletor de lixo. Eles estão sempre empolgados, correndo atrás do caminhão como se fosse um trilho do carnaval. Eles também são atletas. Tens a energia de correr, jogar as sacolas, gritar, e ainda falar com as mulheres passando na rua.
56.           Aqui no Brasil, pode pedir a metade da pizza de um sabor e a metade de outro. Ideia simples e genial.
57.           Aqui no Brasil, no tem agua quente nas casas. Dai tem aquele sistema muito esperto que é o chuveiro que aquece a agua. Só tem um porem. Ou tem agua quente ou tem um vazão bom. Tem que escolher porque não da para ter os dois.
58.           Aqui no Brasil, as pessoas saem da casa dos pais quando casam. Assim tem bastante pessoas de 30 anos ou mais morando com os pais.
59.           Aqui no Brasil, tem três palavras para mandioca: mandioca, aipim e macaxeira. La na franca nem existe mandioca.
60.           Aqui no Brasil, tem o numero de telefone tem um DDD e também um numero de operadora. Uma complicação a mais que pode virar a maior confusão.
61.           Aqui no Brasil, quando encontrar com uma pessoa, se fala: “Beleza?” e a resposta pode ser “Jóia”. Traduzindo numa outra língua, parece que faz pouco sentido, ou parece um dialogo entre o Dalai-Lama e um discípulo dele. Por exemplo em inglês: “The beauty? - The joy”. Como se fosse um duelo filosófico de conceitos abstratos.
62.           Aqui no Brasil, a torneira sempre pinga.
63.           Aqui no Brasil, no taxi, nunca se paga o que esta escrito. Ou se aproxima pra cima ou pra baixo.
64.           Aqui no Brasil, marcar um encontro as 20:00 significa as 21:00 ou depois. Principalmente se tiver muitas pessoas envolvidas.
65.           Aqui em Belo Horizonte, e a menor cidade grande do mundo. 5 milhões de habitantes, mas todo mundo conhece todo mundo. Por isso que se fala que BH é um ovo. Eu diria que é um ovo frito. Assim fica mais mineiro.


In: